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Somos alunos do colégio PADRE RAMBO, cansados desta violência que vivemos atualmente.Com ajuda da professora Luciana Nicola da disciplina de Temas contemporâneos, produzimos esse blog para consciencitizar a população que temos de ser mais responsáveis no transito. Gisele, Rodson e Uriel

quinta-feira, 1 de abril de 2010

No meio da tarde ensolarada de uma quarta-feira de junho, mais precisamente às 15h40 do dia 11, fazia calor no pátio da carceragem do 26º Departamento de Polícia Judiciária de São Paulo. No local, aproximadamente 15 homens, presos por diferentes crimes, aguardavam transferência para outras unidades. Ao longo de um corredor escuro, que dá acesso ao pátio, alguns detentos, sentados, tinham o olhar perdido e conversavam entre si. Outros caminhavam em duplas, num passo rápido, dentro de um quadrado de 4 por 6 metros. Um ambiente abafado, pintado de um cinza predominante, com roupas calçados espalhados.
Havia 11 dias, depois de ter se tornado figura tristemente conhecida em todo o território nacional, o comerciante Ismael Vieira da Silva, de 23 anos, compartilhava a cela com outros presos. Classe-média, estudante do quarto ano de direito e sonhos interrompidos por ter assassinado outro jovem, o estudante Alexandre Andrade Reyes, de 18 anos. Uma briga de trânsito, depois de uma colisão, foi a origem de tudo.
Ismael se diz arrependido, afirma que mal dorme e come desde o dia 24 de maio, data do episódio. Só pensa na vida que tirou, no passado que tinha e no futuro incerto. “Depois da batida dos carros e início da briga, dei um disparo para afastar os sete que estavam no local... Se eu pudesse voltar no tempo, não me defenderia daquele jeito”, diz, alegando legítima defesa.
Esmael deve aguardar preso o julgamento por homicídio e porte ilegal de arma. O que levou o comerciante a entrar nessa via sem retorno? O que faz com que pessoas aparentemente calmas se envolvam em brigas no trânsito, muitas vezes com conseqüências desastrosas?
Em maio de 1996, o pecuarista Marcello Melo Lopes, de 35 anos, de Maceió (AL), quase se envolveu num duelo urbano. Ele estava parado em um semáforo e o motorista do outro carro ultrapassou o sinal fechado, por pouco não colidindo com o dele. “Eu já estava num estresse total. Assim que arranquei com o carro, já apontando a arma, xinguei o outro condutor, que parou em seguida e saiu do automóvel também armado. Por pouco não trocamos tiros.”
Segundo Marcello, num momento de lucidez, ele lembrou que estava acompanhado da esposa e da filha de 5 meses. “Pedi desculpas imediatamente, contrariando a minha vontade. Por pouco não aconteceu uma tragédia, mas hoje, ao ver minha filha, com 12 anos, aprendi que a vida e minha família são mais importantes que qualquer herança machista de não levar desaforo para casa.”
Para Júlio César Fontana Rosa, psiquiatra especializado em comportamento de trânsito da Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (Abramet), o risco de se envolver num ato de violência é potencializado quando o veículo se torna um meio para que a pessoa libere sua agressividade e assim facilite a provocação do outro.
A belicosidade pode começar com uma simples troca de olhares, seguindo para cara feia, gestos obscenos, palavrões, chegando à agressão. “O motorista, muitas vezes, não sabe o que vai causar ali, como um dano ao carro ou à pessoa, mas ela precisa se afirmar. Depois vem o arrependimento. Ou não.”
Pedir desculpas ao realizar uma manobra arriscada sem a intenção de agredir outro motorista pode evitar muitas discussões no trânsito. “Quem está estressado não vai se sentir desafiado se o outro demonstrar arrependimento. Normalmente, esse indivíduo que está agressivo é adorável, calmo. Totalmente irreconhecível em uma briga no trânsito”, afirma Júlio César.
Se quase sempre é difícil fazer uma auto-avaliação, é impossível adivinhar o estado de espírito do motorista ao lado. Assim, uma atitude preventiva – e, por que não, defensiva – é a melhor maneira de não se envolver em situações de violência. O psiquiatra forense Everardo Furtado de Oliveira afirma que é possível prevenir uma briga, evitando, por exemplo, contato de olhos com o condutor agressivo, não fazer ou revidar gestos obscenos, não ficar na cola de ninguém e não bloquear a mão esquerda, por exemplo. Medalhista olímpico em 1992, o judoca Rogério Sampaio não pensa muito diferente: “Respire fundo, tenha consciência de que não vale a pena brigar e, principalmente, pense em sua família”.
O trânsito é um ambiente de interação social como qualquer outro. “O carro é um ambiente particular, mas é preciso seguir regras, treinar o autocontrole e planejar os deslocamentos. É um local em que é preciso agir com civilidade e consciência”, diz a hoje doutora em trânsito Cláudia Monteiro.

Ao contrário do que pode parecer à primeira vista, o carro não é o escudo protetor que se supõe. Exercitar a paciência e o autocontrole não faz parte do currículo das auto-escolas, mas são práticas cada vez mais necessárias à sobrevivência no trânsito.

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